sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A arte que liberta

Depois de quase um ano sem postar aqui, me fiz muitas perguntas, entre elas o porque de abandonar com frequência as coisas que mais gosto. Ainda não tenho muitas respostas e parece que nunca terei. O mais importante é olhar pra isso e dizer que sempre existe um caminho de volta pro lugar que nos faz bem e nos alegra. Entre vários textos que escrevi, experimentei a gostosa sensação de liberdade plena. E isso me trouxe felicidade. É escrevendo que me sinto aconchegada, próxima do meu eu mais sagrado.
Dizem que a arte liberta e foi exatamente assim que me senti ontem na abertura da exposição do artista plástico Vik Muniz, no MAM. Essas são as cenas que se desenrolaram como um filme neste cenário:

Cena 1
Noite chuvosa, a postos o indefectível tapete vermelho estendido, luzes e holofotes seguindo as celebridades globais que se amontoavam no MAM. Garçons afobados equilibrando bandejas, mulheres e homens metidos dentro de figurinos simplesmente inacreditáveis. Nestes eventos, vale tudo. Imagina se o João das Couves vai perder a oportunidade de escancarar a arcada dentária assim que detectar um possível flash? Nem pensar! Então a ordem é abusar. Abusar das cores, dos acessórios, das roupas, dos comprimentos, dos penteados, dos perfumes e da paciência dos outros. A competição foi acirrada no quesito estranheza. Quando vi um cara de terno preto, a calça indecisa entre comprida e bermuda, costeleta à la Elvis Presley (sim, isso ainda existe!) óculos aro preto e grosso anos 60 e a tiracolo uma minúscula bolsa de plástico listrada, coloridíssima, tipo daquelas que a gente usa pra fazer feira me perguntei se aquelas pessoas sabiam mesmo onde estavam. Encostada numa mesa, vi os egos inflados levitando.

Cena 2
Uma escada iluminada por luzes multicoloridas me leva ao 2ºandar. Caminho lentamente saboreando os vídeos que permitem uma degustação da obra de Vik. Ando mais um pouco e me deparo com as telas imensas, belas, soberbas.
Agora nada mais existe. Sou eu, pequenininha, mediante a grandiosidade do artista. Sou eu, reconhecendo a beleza, a preciosidade do trabalho que se estende a minha frente de maneira comovente e única.
Ao retratar rostos e paisagens com tinta, chocolate, açúcar, arame, cordas, retalhos e tudo o mais que a sua imaginação puder construir, Vik grita pra gente que são inúmeras as possibilidades do ser humano. Que a nossa natureza é ilimitada e que a vida acontece exatamente ali, naquele momento, naquele instante em que ele é capaz de criar, dar vida e cor ao que sente.

Cena 3
Saio extasiada com tanta força, tanta fé que vi. Pressenti uma pulsação firme, contínua, inteligente em cada quadro da exposição. E me envergonhei por ter abandonado meus textos, deixando à deriva minha força criadora.
A sabedoria está em sermos capazes de motivar aquilo que há de mais sagrado em nossa vida: o amor a todas as coisas que nos fazem bem.

Obrigada Vik.

8 comentários:

Unknown disse...

Não bastasse ser a pessoa especial que você é; a amiga leal, fiel e companheira de todas as horas; a parceira dos momentos mais sérios e dos mais bobocas; a produtora competente, dócil e pilhada como só você sabe ser; não bastasse tudo isso, ainda escreve tão bem assim! Lindo texto, minha Flor!
Lendo, tive a exata certeza de que estava certíssimo ao te perturbar tanto pra trazer seu blog de volta, viu?
E ó: você está proibida de nos privar de mais textos como esse, tá certo?
Bjão, minha amiga! E parabéns pela sensibilidade, pela força e, claro, pelo post de reestreia!!!

DestroieR disse...

Antes de mais nada, prazer...DestroieR. Passei no blog só pra barbarizar e vi seu comentário....e como a curiosidade matou o gato...entrei pra ver a sua reestreia e claro conhecer seu blog. Sinceramente na cena 1...eu me senti entrando no MAM...com os tapetes vermelhos e holofotes, flash e mais flash (rs). Acabou o sonho...! Acordado te dou os parabéns pelo texto q está fantastico e boas vindas ao mundo blogueiro. Se quizer conhecer meu singelo blog, com textos não tão bem feitos, será um prazer. Fique com Deus. Bye.

Sergio Brandão disse...

Flor, de tudo, a última frase foi a que me chamou mais a atenção: "A sabedoria está em sermos capazes de motivar aquilo que há de mais sagrado em nossa vida: o amor a todas as coisas que nos fazem bem". Essa parte me calou fundo pq, talvez, seja o que eu mais venha trabalhando "há quase um ano"... rs
Esse instinto de liberdade que a arte eventualmente nos proporciona é o que tenho procurado sentir nas últimas "escolhas" que tenho feito... O lema (desejado) tem sido "focar no que me dá prazer e satisfação e me livrar das cobranças (mais exigentes) e da culpa"! Um dia eu chego lá!!! Já foi dada a largada... Bjssssss. e que venham muitos outros posts como este!

isabella saes disse...

Querida, esse texto tem tudo a ver com a minha principal meta para 2009: estar perto das pessoas e coisas que realmente me fazem bem, me trazem alegria de viver. Nada de pessoas por quem não tenho a menor admiração e coisas que me deixam triste. Que bom que vc está de volta, ler suas palavras é sempre uma grande experiência. Agora, só falta a gente se ver, sentar numa mesa de bar e deixar nossa arte falar! Grande beijo, Bella.

Bárbara Pereira disse...

Flor,

Uma de suas resoluções de ano novo deveria ser não parar de escrever nunca mais. Bota esse texto (bom) pra fora, amiga! A gente às vezes bloqueia nossa capacidade criadora por qualquer bobagem.
Bem-vinda ao mundo dos textos escondidos que estão dentro de nós!
Parabéns!!!

Florenza Monjardim disse...

Murilo querido, como já te disse, devo a vc a minha volta... bjs e carinho...

DestroiR, obrigada pelo seu comentário. Se puder, vá ao MAM. Tá tudo lá. abs

Serginho, livre-se mesmo de tudo que não te serve. A vida é mais, sempre! bjs

Bella querida, obrigada pelo seu carinho. Vamos nos ver em breve, prometo! bjs

isabella saes disse...

Minha Florzinha linda, fui ver a exposição e amei!!!! MARAVILHOSA!!! Beijos imensos e obrigada pela dica, Bella.

Florenza Monjardim disse...

Bella, que bom que gostou! Fico feliz, minha amiga! bj bem grande!