sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Estamos quites

No Massapê - pra quem não conhece, um barzinho ao lado da TV Brasil - tem um garçom muito figura, o seu Manel. Não, não é Manoel, nem Manuel, é Manel mesmo. Parece que fez mestrado com os garçons do bar Lagoa. Aprendeu direitinho a arte de atender com mau humor. Eu, que já gosto de implicar com a criatura, não tem um dia sequer que eu entre lá sem cutucar o homem. Um dia implico com a tintura do cabelo (ele pinta as madeixas), outro com a blusa amassada e invariavelmente com o seu "bom humor". É ele o meu prato predileto, mesmo porque a comida lá definitivamente não é nada boa. Só que hoje a inspiração dele superou a minha. Olha só o nosso diálogo:
- Seu Manel, olha só... não vai me atender não, é? Hoje não tô nada boa, sabia?
Ao que ele me respondeu num rompante, com os olhinhos faiscando:
- Então somos dois!
Explodi na gargalhada. Tinha eu outra saída?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A arte que liberta

Depois de quase um ano sem postar aqui, me fiz muitas perguntas, entre elas o porque de abandonar com frequência as coisas que mais gosto. Ainda não tenho muitas respostas e parece que nunca terei. O mais importante é olhar pra isso e dizer que sempre existe um caminho de volta pro lugar que nos faz bem e nos alegra. Entre vários textos que escrevi, experimentei a gostosa sensação de liberdade plena. E isso me trouxe felicidade. É escrevendo que me sinto aconchegada, próxima do meu eu mais sagrado.
Dizem que a arte liberta e foi exatamente assim que me senti ontem na abertura da exposição do artista plástico Vik Muniz, no MAM. Essas são as cenas que se desenrolaram como um filme neste cenário:

Cena 1
Noite chuvosa, a postos o indefectível tapete vermelho estendido, luzes e holofotes seguindo as celebridades globais que se amontoavam no MAM. Garçons afobados equilibrando bandejas, mulheres e homens metidos dentro de figurinos simplesmente inacreditáveis. Nestes eventos, vale tudo. Imagina se o João das Couves vai perder a oportunidade de escancarar a arcada dentária assim que detectar um possível flash? Nem pensar! Então a ordem é abusar. Abusar das cores, dos acessórios, das roupas, dos comprimentos, dos penteados, dos perfumes e da paciência dos outros. A competição foi acirrada no quesito estranheza. Quando vi um cara de terno preto, a calça indecisa entre comprida e bermuda, costeleta à la Elvis Presley (sim, isso ainda existe!) óculos aro preto e grosso anos 60 e a tiracolo uma minúscula bolsa de plástico listrada, coloridíssima, tipo daquelas que a gente usa pra fazer feira me perguntei se aquelas pessoas sabiam mesmo onde estavam. Encostada numa mesa, vi os egos inflados levitando.

Cena 2
Uma escada iluminada por luzes multicoloridas me leva ao 2ºandar. Caminho lentamente saboreando os vídeos que permitem uma degustação da obra de Vik. Ando mais um pouco e me deparo com as telas imensas, belas, soberbas.
Agora nada mais existe. Sou eu, pequenininha, mediante a grandiosidade do artista. Sou eu, reconhecendo a beleza, a preciosidade do trabalho que se estende a minha frente de maneira comovente e única.
Ao retratar rostos e paisagens com tinta, chocolate, açúcar, arame, cordas, retalhos e tudo o mais que a sua imaginação puder construir, Vik grita pra gente que são inúmeras as possibilidades do ser humano. Que a nossa natureza é ilimitada e que a vida acontece exatamente ali, naquele momento, naquele instante em que ele é capaz de criar, dar vida e cor ao que sente.

Cena 3
Saio extasiada com tanta força, tanta fé que vi. Pressenti uma pulsação firme, contínua, inteligente em cada quadro da exposição. E me envergonhei por ter abandonado meus textos, deixando à deriva minha força criadora.
A sabedoria está em sermos capazes de motivar aquilo que há de mais sagrado em nossa vida: o amor a todas as coisas que nos fazem bem.

Obrigada Vik.